Casa da Palavra



A Casa da Palavra é um espaço dedicado à cultural literária. O seu trabalho é voltado aos amantes da literatura, filosofia, artistas e estudantes.

Ela abriga em seu espaço a Escola Livre de Literatura, que se destina exclusivamente à difusão da Literatura, e à formação de novos leitores e escritores.

Este espaço é um equipamento da Secretaria de Cultura de Santo André.

Local: Praça do Carmo, 171, Centro – Santo André, SP.
Contato: 4992-7218


segunda-feira

Hildebrando Pafundi

Escritor e jornalista, com participação em antologias de crônicas e contos e co-autoria em outros livros. Autor dos livros de contos "Tramas & dramas da vida urbana", e "No ritmo sensual da dança" editados em setembro de 2004 e 2006, respectivamente; "Cotidiano e imaginário do ano 2000 (diário), editado em 2007. Leia minha coluna, Esquina Descontraída, no jornal virtual Clique ABC.






Gatos & ratos

A noite surgiu negra e tenebrosa, enquanto o negro gato dormia, no quarto branco, onde havia um rato preto e uma ratazana branca, igual a essas utilizadas para pesquisas e experiências de laboratório.
O rato preto gostou da rata branca. Ela também gostou do parceiro pretinho, prova que entre os ratos não existe qualquer preconceito racial de cor, como costuma ocorrer em alguns países entre os seres humanos.
Mas os grunhidos de amor dos ratos, parecidos com os de um casal de javalis, acordaram o gato preto, que miou contra a noite sem estrelas.
Miado grosso, porém carinhoso, chamando a companheira, a bonita gata branca, que estava no cio.
Depois do delicioso ato sexual, o gato e a gata, que também não tinham preconceito de cor, jantaram o casal de ratos.
Março 2001 - publicado no livro de contos de Hildebrando Pafundi, “Tramas & dramas da vida urbana”, Elosul Editora/2004.

Promessa de Vingança

"Brasil! Um país rico, culto, sonhador e
pobre, mas onde se oculta toda riqueza
cultural que ainda sobrou neste Planeta".
(Gilberto Lopes Teixeira, 1983)**
Zé de Freitas e seu filho Severino encontraram naquela favela de São Bernardo do Campo o local ideal para morar, depois que Maria de Freitas, mulher do Zé, fugiu com outro e eles foram despejados. Ele ficou desempregado, passou a viver de bicos e deixou atrasar o aluguel por vários meses. Apesar da miséria, dos riscos de desabamento do barraco de madeira e da falta de uma mulher na vida dos dois, eles iam levando a vida.
Mas, na realidade, outras coisas importantes faltavam para eles e para a comunidade, que vivia naqueles pouco mais de 50 barracos, erguidos na beira de um córrego poluído ou pendurados em barrancos. Não havia posto de saúde, nem saneamento básico. O esgoto corria a céu aberto. Ambulância ou qualquer outro tipo de veículo não conseguia entrar na favela, porque as vielas eram muito estreitas. O carro-pipa da Prefeitura parava na rua de baixo e ali os moradores iam busca água com baldes de plástico, de alumínio, latas e outros tipos de vasilhas. Os doentes eram levados em macas até o local onde a ambulância conseguia chegar. A polícia também dificilmente aparecia por lá. Energia elétrica tinha, embora fosse clandestina, puxada diretamente dos postes da Eletropaulo para os barracos. Os moradores chamavam essas ligações de gambiarras ou "gatos". As crianças menores, que não podiam freqüentar escola, porque ficava muito longe da favela, não tinham local para suas brincadeiras.
Everaldo, ovelha negra da favela, traficante de drogas e briguento, um dia aplicou uma tremenda surra no Zé de Freitas, por causa de uma pequena dívida. Um empréstimo para a compra de remédios para o filho e que ainda não conseguira pagar. Zé de Freitas prometeu vingança. Porém, como estava muito velho, passou a incumbência ao filho Severino:
--- Quando você crescer, filho, vinga essa desfeita.
Anos mais tarde, quando o pai já havia morrido, Severino se armou de uma faca bem afiada e foi procurar Everaldo. Encontrou-o bebendo cachaça com amigos em um boteco da favela.
--- Everaldo, quero falar contigo, disse.
Everaldo saiu do bar, risonho, esquecido da antiga briga com o falecido Zé de Freitas. Severino, com um sorriso nos lábios cumprimentou o valentão, que nem percebeu que o outro estava armado. A faca afiada penetrou no pescoço e depois no peito de Everaldo, que sem ser socorrido, morreu numa poça de sangue.
Mas Everaldo também tinha um filho, Pedro, com 18 anos, que prometeu vingar a morte do pai. Deixou a barba crescer, como sinal de revolta, e disse que só iria raspar depois de matar Severino, que havia desaparecido da favela. A barba foi crescendo e, quando estava muito longa, três anos depois da promessa, um belo dia, ele apareceu de cara limpa. Havia raspado a barba, como quem tira um peso da consciência, mas, na realidade, um disfarce. Vingara a morte do pai. E agora era um assassino, mas a policia procurava um homem alto, de barba longa, aparentando cerca de 30 anos. E Pedro, agora sem barba, era um jovem, que aparentava a idade que tinha: 21 anos.
Desapareceu da favela sem deixar pistas.
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Este conto foi premiado entre os dez melhores no Concurso de "Contos José Antonio Riani", da Academia de Letras da Grande São Paulo em 1999 e publicado em coletânea dos classificados pela Scortecci Editora em 2000.
** Gilberto Lopes Teixeira, sobrinho do autor, escreveu essa frase quando tinha 15 anos de idade. Hoje é professor universitário, mestre e doutor em História, formado pela USP, leciona na Fundação Santo André e em outras faculdades.

sábado

Livros na Casa

Empréstimo e outras informações:
Casa da Palavra, Praça do Carmo, 171, Centro - Santo André
telefone: 011 4992 7218
Falar com José Carlos

Leia:

COTIDIANO E IMAGINÁRIO Do ano 2000
Autor : HILDEBRANDO PAFUNDI
Editora: W/2007

Resultado de um acordo entre escritores, na Alfharrabio, espaço literário, em Santo André, Cotidiano e Imaginário, diário do ano 2000, mescla acontecimentos da vida particular do autor com os da cidade, da região do Grande ABC e em todo o País, no que foi o primeiro ano do séc.XXI, ou do último do séc.passado. Há divergências.Além de ser um registro(quase oficial) da temperatura e acontecimentos impactantes de todos os segmentos – a maior parte das informações são extraídas do períodico local, Diário do Grande ABC - ,o diário apresenta de forma poética os desdobramentos da vida do jornalista, escritor e membro atuante em vertentes sócioeconômicaculturais sem deixar que os embates cotidianos lhes tirassem os prazeres das manifestações familiares, narradas em detalhes triviais e minimalistas.Recomendado para aqueles que desejam revisitar este ano emblemático de nossa história e que, também, precisam de referências do viver bem por um cidadão de bem.

Outras obras: Trama & dramas da vida urbana(contos), editora Elosul/2004
No ritmo sensual da dança(contos), editora W/2006
Inéditas: Antes que falhe a memória(crônicas)
Janela da liberdade e outras histórias(infanto-juvenil)
por, Rosana Banharoli

AS HORAS NUAS
Autor: TELLES, LYGIA FAGUNDES
Editora: ROCCO

"Recentemente, estava eu a folhear alguns dos livros de Lygia Fagundes Telles que desde há muito me acompanham na vida, a afagar com os olhos páginas tantas vezes soberbas, quando me detive nessa verdadeira obra-prima que é o conto Pomba Enamorada. Reli-o uma vez mais, palavra a palavra, sílaba a sílaba, saboreando ao de leve a pungente amargura daquele mel." José Saramago



CONTOS REUNIDOS
Autor: FONSECA, RUBEM
Editora: COMPANHIA DAS LETRAS

Estendendo-se por um período de mais de trinta anos, 'Contos reunidos' contém praticamente todos os contos escritos por Rubem Fonseca de 1963 até 1994. Com apresentação do professor Boris Schnaiderman, Contos reunidos permite conhecer a trajetória desse autor que soube aliar os recursos do romance policial, do jornalismo e do documento científico ao lirismo mais surpreendente e desesperado, para renovar profundamente a forma do conto entre nós.


A REDOMA DE VIDRO
Autor: PLATH, SYLVIA
Editora: RECORD

Fugindo do que seria um obra de literatura confessional, a autora cria um romance de qualidade excepcional, centrado no processo de desintegração mental de sua heroína, promovido pelas mais diversas manifestações do chamado "senso comum".






ELES ERAM MUITOS CAVALOS
Autor: RUFFATO, LUIZ
Editora: BOITEMPO EDITORIAL

Durante um único dia, 09 de maio de 2000, o autor percorre a cidade de São Paulo tentando desvendá-la. Não apenas os engarrafamentos, parques ou dinheiro correndo por entre os conglomerados econômicos. Ele decifra cada dia, minuto e segundo da metrópole marcada pela diversidade humana - mosaico composto por gente de todo o Brasil.




DENTRO DA NOITE VELOZ
Autor: GULLAR, FERREIRA
Editora: JOSE OLYMPIO

Dentro da noite veloz' traz um Gullar preocupado com a necessidade de mudanças radicais no país. Sem fazer concessão ao panfletário, o poeta vence, com maestria inigualável, a traiçoeira vertente da poesia com matiz político-social.O livro resulta do caminho percorrido pelo autor na tentativa de realizar uma poesia que, tratando das questões sociais e políticas, mantivesse a qualidade literária.



PANTALEÃO E AS VISITADORAS
Autor: VARGAS LLOSA, MARIO
Editora: ALFAGUARA BRASIL

'Pantaleão e as visitadoras' conta a história de Pantaleão Pantoja, um capitão recém-promovido do exército, que recebe uma missão inesperada - criar um serviço de prostitutas para as Forças Armadas do Peru isoladas na selva amazônica, dentro do mais absoluto sigilo militar. O capitão tem que se mudar para Iquitos, se manter afastado dos demais militares, usar trajes civis e, acima de tudo, não contar nada à mãe e à mulher. É obrigado a trabalhar nas madrugadas, bebendo em bares infectos, e cuidar do empreendimento com personagens insólitos. Em pouco tempo o que era uma missão discreta se transforma no maior empreendimento de prostitutas do país, virando do avesso à vida de Iquitos e do próprio Pantaleão, que, como se não bastassem os problemas familiares, se verá envolvido com uma bela e insinuante visitadora.

NADJA
Autor: BRETON, ANDRE
Editora: COSAC NAIFY

Título-chave no contexto surrealista e narrativa mais importante de André Breton, formando uma trinca com 'Les vases communicants' (1932) e 'L'amour fou' (1937), este romance, escrito em 1928, encena o encontro entre realidade e fantasia, característica desta vanguarda. Num local freqüentado por prostitutas e cartomantes, o narrador mergulha na convivência efêmera e tumultuada com a personagem-título, em meio ao labirinto urbano parisiense. Nadja, uma encarnação contemporânea do enigma e do mito, representa o princípio de liberdade em forma feminina e uma porta para além da banalidade. A atmosfera onírica registra os fragmentos do dia-a-dia em imagens produzidas a partir de destroços da realidade imediata, que buscam a correspondência dos objetos cotidianos com o mundo interior.

Rosana Banharoli

Rebento dos anos 60. Nasci sob a epifânia dos Reis Magos, na hora mágica –, meia-noite. Bênçãos confluídas: céu e inferno; sagrado e profano; auroras e raios.
Meu nome? – Rosana Banharoli
(rosana_banharoli@hotmail.com)











Abandono


Tenho um buraco de bala em meu seio, onde alimento teu pássaro, faminto de redenção.Respiro por fumaças embotadas, expelidas por chaminés de meus vazios.Mesmo sem te ver, ouço seu cheiro em blues.Tapetes,mesas,sofás e ladrilhos do quintal, livres de crianças, transpiram em cavalgadas por caminhos sepultados.Mergulho na escuridão!Mordo seus dentes e engulo sua existência com miligramas de imipramina.

sexta-feira

CAPÍTULOS DA LITERATURA BRASILEIRA

Toda segunda, às 19h30

Os Capítulos da literatura brasileira constituem, com aulas independentes, um curso aberto de literatura brasileira, a ser ministrado por diversos professores ligados a universidades como Fundação Santo André e USP, de maio a dezembro.

Partindo da obra dos Jesuítas, os Capítulos abrangem até a produção dos poetas marginais dos anos 1970, passando pelos pontos mais altos de nossa literatura, como Machado de Assis, Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade.



Em agosto

dia 25: Lima Barreto e o romance social
- Prof. Juarez Donizete Ambires

Em setembro
dia 1: A Semana de 22: modernismo à brasileira
- Profa.Tatiana Longo Figueiredo

dia 8: Os Andrades: Mário e Oswald
- Profa. Tatiana LongoFigueiredo

dia 15: Monteiro Lobato
- Profa. Clarice Assalim

dia 22: Manuel Bandeira e a poesia modernista
- Prof. MarcosAntonio de Moraes

dia 29: O romance regionalista
- Prof. Marcos Antonio deMoraes

Em outubro
dia 6: Otto Lara Resende
- Prof. Juarez Donizete Ambires

dia 13: João Guimarães Rosa
- Prof. José Marinho do Nascimento

dia 20: Murilo Mendes
- Prof. José Marinho do Nascimento

Em novembro
dia 3: Clarice Lispector
- Profa. Maria de Lourdes RueggerSilva

dia 10: Carlos Drummond de Andrade
- Prof. Sérgio Alcides

dia 17: João Cabral de Melo Neto
- Prof. Sérgio Alcides

dia 24: A Poesia Concreta e os anos 1960
- Prof. Sérgio Alcides

Em dezembro
dia 1: Prosa de ficção nos anos 1970
- Profa. GabrielaKvacek Betella

dia 8: A poesia marginal: geração mimeógrafo
- Prof. Marco Antonio de Moraes

quarta-feira

Resenhas

História Natural da Ditadura
de Teixeira Coelho
Ed Iluminuras, 2007
História Natural da Ditadura é um livro fora dos padrões da narrativa ficcional, da sociologia ou da filosofia. Nele o leitor é transportado por uma lente vertiginosa: o foco é o século XX e sua teimosa permanência no século atual. O mal-estar, um hábito, subjaz nos temas e na forma da HND, sigla adotada pelo narrador do último capítulo e que opta por não deixar claro se é ou não a voz do próprio autor. Curador artístico do MASP, autor de títulos sobre cultura e arte e de obras tão ou mais inquietantes que esta, como As Fúrias da Mente - viagem pelo horizonte negativo, Teixeira Coelho registra, na HND, cidades e suas marcas históricas, afetivas e poéticas. Lá, personagens e fatos reais se mesclam num sem fim de aproximações e coincidências que deixam de ser coincidências para serem vozes de uma condição inexorável: o permanente estado de exceção em que vivemos. A HND é capaz de gerar muita polêmica sobre arte, política, cultura. Sobre o amor e sobre a vida e, assim, sobre a morte. Trata, portanto, do que é – ou deveria ser - a única questão importante para todos nós. E ainda deixa em aberto uma provocante e indigesta interrogação: 'por que não nos importamos mais?'. Por tudo isto e muito mais, mereceu o 3o lugar do Portugal Telecom 2007.
Beth Brait Alvim
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Nós, os do Makulusu
de José Luandino Vieira.


O livro: Nós, os do Makulusu, de José Luandino Vieira, possui elementos significativos da prosa moderna que o qualificam como obra de arte no sentido utilizado por Walter Benjamin: “uma existência única no lugar onde ele se encontra”. Partindo de um contexto concreto do início das lutas pela libertação de Angola, (implícito no texto) o autor escolhe o recurso da memória para contar a experiência do narrador frente à morte do irmão. A narrativa descontínua está diretamente relacionada à fragmentação da memória e do país. O tiro que inicia o livro desencadeia um processo de desintegração da vida e da identidade do narrador, diretamente relacionada com o momento de mudança pelo qual o país está passando. O recurso à memória da infância, além de permitir uma construção poética de alta densidade ligada ao mundo interior de “Mais Velho”, nos conduz por um passeio pelas ruas de Luanda que transformam essa memória em experiência vivida.
Acompanhamos “Mais Velho” de perto nas suas perambulações pelas ruas e bairros da infância, ruas que também não existem mais, como “Maninho”, o irmão querido perdido na guerra. Acompanhamos “Mais Velho” nas suas reflexões acerca dessa mesma guerra, suas dúvidas e hesitações em relação ao caminho que deve escolher ou deveria ter escolhido nesse processo, no qual não há lugar para heróis, nem para “Maninho” que era “o melhor de nós”.
A opção do autor pela primeira pessoa (própria da memória), a utilização de uma linguagem de matriz popular e a mistura dos pronomes pessoais eu, tu e nosso abolem a tradicional distância entre autor e leitor, entre o narrador e o narrado e transformam o artista em representante do sujeito social coletivo. Há um projeto de igualdade implícito no texto, nas referências as origens diversas dos personagens, como por exemplo, na figura mestiça da cunhada, tão fortemente repetida, não com o intuito de mostrar a diferença, mas a igualdade, ou a possibilidade dela, numa relação direta ao projeto de construção da nação.
A complexidade da obra permite possibilidades múltiplas de análise e interpretação, o que é um sinal evidente da qualidade do livro, dentro dos parâmetros da literatura contemporânea que valoriza a polifonia e a ambigüidade, parâmetros para os quais José Luandino Vieira não deixa nada a dever.

Vanessa Molnar.




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De mim já nem se lembra
Luiz Ruffato

Impressões e comentários

Preâmbulos

Um livro. Cinquenta cartas ( sou doida por cartas). O chamado. Tive medo. Fiquei o dia inteiro entre o livro e o caos do meu quarto.
Será que eu ia aguentar abrir baús, viajar pelos meus subterrâneos, deparar com fantasmas?


O livro
O livro se divide em duas partes:

Parte 1. EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA

a história começa com os primeiros indícios da doença da mãe do narrador, flashs backs: lembranças da infância, da doença do pai, do momento da morte da mãe, da dor no quarto vazio na hora de juntar os pertences daquela que acabou de partir; ocasião em que a caixa com as cartas do irmão, morto anos antes em um acidente de carro, é encontrada sob a cama de casal. Em seguida, lembranças da morte do irmão e o impacto deste fato no cenário familiar.


Comentários:
a leitura dessa primeira parte dá a impressão de que há muita informação, mas ao ler a segunda parte tem-se uma visão geral da arquitetura concebida: que é de entrelaçamento do todo, desta história familiar; na qual a luz incide, em primeiro plano, nas figuras da mãe e do irmão.

Os pontos altos da narrativa se dão nos episódios onde o narrador se locomove entre a agonia final da mãe, a morte e o enterro; a linguagem explode numa densa poesia que tenta traduzir o auge da dor, como nas passagens a seguir:


. quando encontra a mãe nas últimas, no hospital:

...Sussurrei, Mãe? Volveu o corpo e apavorei-me com o terror que li em seu rosto encovado: a morte a contatara antes e desesperada minha mãe procurava agarrar-se ao cordame invisível que nos move e ele desfazia-se podre em suas mãos suadas, ...
...
Mudo, larguei-a desamparada, espectro flutuando no colchão, e ganhei célere a alameda de oitis, minha covardia ladrando nos calcanhares. Ensolarado, agosto traquinava indiferente, espalhando folhas e ciscos, impelindo com indolência a tarde por entre nuvens e irritadas buzinas.

. ou como na enumeração de cenas corriqueiras que mostram o contraste entre o movimento do mundo e a mãe agonizante:


...Minha mãe está morrendo e o homem que conversa com o seu Pantaleone na banca de jornais ignora. E a grávida que escolhe o enxoval do bebê na loja em frente, o vira-lata que sua pelagem descorada coça, o melancólico vendedor de churros, a velha que me espiona da janela, os aposentados na fila do banco, os dois amigos que bebem cerveja no bar da esquina, ...
. ou como este final de trecho de uma sequência, após o enterro da mãe, no qual a dor vai aumentando, empurrando o corpo até o limite do que parece ser a travessia deste momento de embate entre a vida e a morte:

...minhas coxas fraquejam, as fontes palpitam, ardem os pulmões. Estranhamente não grito; esgana -me, parece a aflição. Súbito, os braços envolvem-me as pernas: estou pronto.



Parte 2. AS CARTAS

as cartas se iniciam em 02/02/71 e vão até 05 /03/78. Conta a trajetória de um jovem que sai de Minas e vem para S.Paulo. Suas impressões, dificuldades, sonhos, relações, o vínculo com a família, com a terra, um pouco da história do ABCD e do Brasil naqueles anos 70.

Comentários
As cartas dispensam comentários, falam por si mesmas, são tão verossímeis que parecem reais; ou são tão reais que parecem ficção?
História de um migrante, todas as dificuldades e descobertas comuns aos que estão longe de casa, como no trecho que segue:

. carta de 12 de Janeiro de 75
... Desta vez andei mais pela cidade, vi alguns amigos, encontrei outros que estão morando aqui em São Paulo e a sensação que fica é a de que nunca mais vou voltar. Isso é muito triste, porque aqui não é o meu lugar. Mas também sinto que aí também não é o meu lugar. Ou seja, não sou de lugar nenhum. E isso dói dentro da gente. ...
...

Foi uma viagem de muita sede e pouca água; uma viagem aos 20 anos de distância de uma cidadezinha no interior da Bahia, onde nasci; uma viagem ao vazio descerrado pelo mar de cartas não escritas ou escritas e não enviadas.

Conceição Bastos

terça-feira

ELL - Inscrições 2008


Inscrições abertas para as atividades da CASA da PALAVRA/ELL (Escola Livre de Literatura) 2008
Programação dos cursos da Escola Livre de Literatura que se estenderão pelo ano de 2008.
Módulo Básico
Núcleo Laboratório de Escrita:
As seis propostas para o próximo milênio de Ítalo Calvino, mais Jogos, leis, teorias, acaso e caos.
Silvia Cabrera e Marcos Ferraz
(Quinzenal aos sábados – Início 08/03 – 15h às 17h30)
Módulos Específicos
Ação ou Atitude Poética:
Núcleo Oralidade Poética -
Leituras coletivas ampliadas pela experiência sensório-corporal da palavra
Mônica Rodrigues
(Semanal aos sábados– Início 08/03 – 10h30 às 13h)
Encontros Órficos -
Shiva & Dionizio; o Sagrado & o Profano; Poesia & Xamanismo.
Roberto Piva
(Mensal aos sábados – início em março (não definido) 15h às 18h
A poesia e o Tambor -
Naye
Seqüencial após Encontros Órficos (Sábados)
Grupo de Estudo sobre a Mitologia:
Miguelito de Oliveira
quarta das 19h30 ás 21h30
início 19/03/08
O módulo de criação literária (ainda em negociação)
Maiores informações:
CASA da PALAVRA
Prç. Do Carmo nº 171 - Centro- Santo André
fone: 4992-7218
terça a sexta das 10h às 20h, aos sábados até as 19h

sábado

Grupos de Estudo

A Dimensão Estética
Herbert Marcuse


Toda Quinta 19h30
Casa da Palavra

No texto, Marcuse "desmonta" a estética ortodoxa e defende que a arte é autônoma das relações sociais, na medida em que as transcende. Nesta transcendência - diz ele - rompe com a consciência dominante e revoluciona a experiência.


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.

ABC da Literatura
Ezra Pound


Toda Terça 19h30
Casa da Palavra

Publicado em 1934, Pound oferece, neste ensaio, um curso condensado de literatura comparativa, classificando a poesia como fanopéia, melopéia ou logopéia, de acordo com seu enfoque na imagem, no som ou no pensamento.

Grupos para discussão dos textos selecionados, sem coordenação. Participe!
Cadastre seu email para receber a programação completa do mês.

quarta-feira

Revista e Jornais Literários

Visite o site: Revista Agulha
"Por efeito perverso de um jogo de linguagem, podemos dizer que organização e corrupção são indissociáveis. Contudo, a despeito de qualquer artifício, Agulha entra em seu oitavo ano bem organizada e livre de qualquer vestígio de corrupção. Por seu acervo de matérias há passado um elenco valioso de leituras de temas vinculados aos aspectos aqui referidos. Obrigado a todos, reforçando nossa cumplicidade e acreditando (ainda) em um futuro melhor." (os editores)

Editores:
floriano martins
( floriano.agulha@gmail.com )
claudio willer
( cjwiller@uol.com.br )

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Visite o site: Revista A Cigarra
A Revista A Cigarra com um outro formato e um canto mais intenso em sua edição de nº 42, celebrando os 25 anos de existência e resistência na sua trajetória poética.
Editores: Zhô Bertoline e Jurema Barreto
Pedidos e informações de aquisição:
● Alpharrabio Livraria Espaço-Cultura - R: Eduardo Monteiro 151 - Jd.Bela Vista – (altura do nº 1000 da Av. Portugal), Santo André -SP,Tel : 44384358, alpharrabio@alpharrabio.com.br
● Livraria & Sebo Alexandria : Rua D. Elisa Flaquer, 218 – Santo André –SPTel; 4437-1789, alexandriasebo@uol.com.br
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Visite o site: Literatura e Arte
Site de literatura que se propõe a discuti-la através de ensaios críticos e publicação de textos em prosa e poesia.



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Visite o site: Jornal de Poesia
"Aqui você encontrará páginas de poetas consagrados, de Camões a Castro Alves, mas, e em especial, dos poetas novos, inclusive daqueles que nunca tiveram a chance de publicar qualquer coisa. Encontrará também artigos e ensaios sobre teoria poética e literatura de um modo geral. " (o editor)

Editor:
Soares Feitosa, jornalista
mailto:smsoaresfeitosa@secrel.com.br

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Visite o site: Jornal Rascunho
No Rascunho, cerca de 200 colaboradores de várias regiões do país e do exterior já publicaram resenhas, entrevistas, ensaios, artigos, contos ou poemas. Entre seus colunistas fixos, estão autores como Nelson de Oliveira, Fernando Monteiro e José Castello. Vários outros já lançaram trabalhos inéditos no Rascunho – entre eles, Dalton Trevisan, Affonso Romano de Sant’Anna, Luiz Vilela, Lygia Fagundes Telles, Luiz Ruffato, Ivan Junqueira e Miguel Sanches Neto. O veículo tem 32 páginas, divididas em quatro cadernos, e é publicado em edições mensais.

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Visite o site: Bestiario
"A revista BESTIÁRIO, em seu 26º número publica dezoito novos textos de alguns dos mais respeitados contistas brasileiros, hispano-americanos e portugueses e uma coletânea de contos de Natal. Também têm espaço garantido autores novos e promissores coluna intitulada "Vitrine Literária". A revista oferece ainda textos críticos e teóricos, resenhas e traduções inéditas." (editorial)

Editores
Roberto Schmitt-Prym
Charles Kiefer

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Visite o site: revista ZUNAI poesias & debates




Editores:
Claudio Daniel
Rodrigo de Souza Leão

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Visite o site: Germina Literatura
Editoras / Arte / Design:
Mariza Lourenço & Silvana Guimarães
Jornalista Responsável: Marília Kubota
email: germina@germinaliteratura.com.br

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Visite o site: Confraria do Vento
"Confraria é con-fluir de idéias opostas, sem buscar sínteses. Não procuramos respostas, preferimos a dúvida. Preferimos as diferenças ao consenso que tudo dilui. Arte é mistério, logo não nos cabe a pretensão de esclarecê-la. Ficamos com a divergência. Qual obra não se cria sem tensão, sem desespero?..." (editorial 1,4 e 7 da revista)
editores:
márcio-andré
victor paes
ronaldo ferrito

apoio:
setor de pós-graduação em ciências da literatura da
universidade federal do rio de janeiro

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Visite o site: Portal Literal
Curadoria: Heloisa Buarque de Hollanda


Autores:
Ferreira Gullar
Luiz Fernado Veríssimo
Rubem Fonseca
Zuenir Ventura
Lygia Fagundes Telles










































Revista A Cigarra

A Revista A Cigarra com um outro formato e um canto mais intenso em sua edição de nº 42, celebrando os 25 anos de existência e resistência na sua trajetória poética. Editores: Zhô Bertoline e Jurema Barreto

Preço R$ 8,00 + frete, para envio pelo correio.
(inclusive números anteriores)

Pedidos e informações de aquisição:
● Alpharrabio Livraria Espaço-Cultura - R: Eduardo Monteiro 151 - Jd.Bela Vista – (altura do nº 1000 da Av. Portugal), Santo André -SP,Tel : 44384358, alpharrabio@alpharrabio.com.br
● Livraria & Sebo Alexandria : Rua D. Elisa Flaquer, 218 – Santo André –SPTel; 4437-1789, alexandriasebo@uol.com.br


por Rosana Banharoli





Revista ‘A Cigarra’ comemora 25 anos

Artigo retirado do jornal:
O Diário do Grande ABC, por Melina Dias

Em um país em que 74% da população é considerada analfabeta funcional (dados do Instituto Paulo Montenegro), ou seja, não entende plenamente o que lê, manter qualquer publicação é um ato corajoso. Agora, editar por 25 anos uma revista dedicada exclusivamente à poesia é algo que beira a “guerrilha cultural”.

(...)

A expressão “guerrilheiros culturais” é usada pelo poeta e artista plástico Guto Lacaz no texto que introduz sua colaboração nesta edição especial. Há outros colaboradores veteranos, como Tom Zé, Arnaldo Antunes, Glauco Mattoso e, obrigatoriamente, o mestre Augusto de Campos.

Como de costume, a estes se unem jovens poetas e gente que, além de poesia, faz bastante pela cultura da região, como Fabiano Calixto, Tarso de Melo, Marcelo Montenegro, Beth Brait Alvim, Dalila Teles Veras e Paula Caetano, entre outros. A maioria dos poemas cedidos é inédita. Há ainda desenhos e fotos, na boa composição gráfica de Perkins Moreira. A capa é assinada pelo pintor Ricardo Amadasi.

Guerrilheiros - A professora Jurema Barreto de Souza é editora de A Cigarra desde os tempos do mimeógrafo (simplificando para os mais novos, uma espécie de xerox manual). A ela logo se juntou o poeta Zhô Bertolini, também bastante conhecido na região por manter a bem-sucedida feira de discos de vinil.

A parceria na vida e na poesia rendeu frutos. Eles chegaram a ter centenas de assinantes, mas hoje a revista é distribuída de forma mais espontânea, em encontros como o de hoje, feiras e saraus. A periodicidade é variável. Seu conteúdo ampliado também pode ser acessado pela internet (www.kplus.com.br). Contatos e solicitações podem ser feitos por e-mail (revistaacigarra@gmail.com).



terça-feira

José Geraldo Neres

Garça, SP, 1966. Poeta, ficcionista, roteirista. Co-fundador do grupo Palavreiros. Integrante do Grupo Gestor do Ponto de Cultura Laboratório de poéticas e responsável pela seção Outra Margem da revista homônima. Desde 2005, assessor literário da Secretaria de Cultura de Diadema.

Obras: Pássaros de papel (Projeto Dulcinéia Catadora, edição artesanal, SP, 2007). Numerosas publicações em antologias, revistas e suplementos literários no Brasil, Argentina, Colômbia, Espanha, Estados Unidos da América, México, e Nicarágua.

Organizou, com Floriano Martins, a Antologia de Poetas Brasileiros (Huerga & Fierro Editores, Espanha, 2007).

Vários prêmios literários e incentivos, dentre eles: Bolsista da Fundação Biblioteca Nacional (2007/2008), Programa de Intercâmbio e Difusão Cultural, Ministério da Cultura, (2005), Catálogo de Artes – Mapa Cultural Paulista (2003/2004, 2005/2006 e 2007/2008), Prêmio Nacional de Poesia Helena Kolody (2006, 3º Lugar), Prêmio Cultural Plínio Marcos - Mostra de Artes de Diadema (2004), Concurso Nacional de Contos José Cândido de Carvalho (2004, 4º lugar).

Cursou: Oficinas de Criação Literária, Dramaturgia, e Roteiro de cinema em vídeo.

Algumas participações em eventos culturais:
3ª Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas – FLIPORTO, (2007), 1º Festival Internacional de Poesía, Granada, Nicarágua, (2005), 5º Encuentro Internacional Literario aBrace - Uruguay, (2004), 2ª Mostra de Vídeo do Município de Mauá, com o curta-metragem "A Herança", (2003), 7º Encontro Regional de Escritores de Rio Claro, (2003).

O SILÊNCIO ENTRE VOZES

I

Um barril. Como manter intacto o carvalho? Minha vingança quis beber o corvo – a derradeira pedra para completar a parede – Sinto um grasnar atravessar a pedra, atravessar os ossos, aproximando-o cada vez mais da alma. A face na sombra, no reencontro das sombras que vestem esse lugar, além das duas lâminas – os ponteiros que escorrem pelas quatro paredes – o tempo úmido, além do tempo. O sangue misturado aos pedaços de carne presos nos restos da pedra, a saliva está por toda a parte, os movimentos das mãos estão comprometidos. Uma sombra golpeia a vidraça. Abre nos olhos o primeiro labirinto, labirinto que precisa saciar a sua sede. Outra, joga-se contra a terceira parede. O silêncio é quase absoluto, liquefeito, a escorrer pelo chão.

II

- Descubra a alma e com calma movimente a próxima peça no tabuleiro.

III

Seu olhar resvala pela parede lisa. É o homem fiando o tecido da vida – metade aprendiz, metade lua – o tempo dentro da chuva, criatura lírica abraçada a Quixote. Tempo? Sem orações; do barro ao absurdo. Uma serpente envolta no relógio de uma máquina oculta, diz: Mais alto! Dance! É mais fácil caminhar pelo deserto, ser a infância dentro de um corpo, afogar as outras peças e inventar o profeta. O silêncio é um abismo. Mais alto! Sinta a agulha no tecido. Dance!

IV

Um pedaço de chuva no bolso. Sobras de silêncio. A pele desfiada num rosário de carnes, relógio de dores e sombras perdidas. Senta para chorar a colheita de espelhos, mares de espelhos, arrastando o tempo no interior de sua sombra.

Cada gota: um grito de silêncio! Janela ácida de luz, o corpo é água amarga da fome, os ponteiros na pele – além das duas lâminas– difícil é mudar de pele. Mais ainda é arrancar raízes. O silêncio entre vozes.


texto premiado no Mapa Cultural Paulista (2007/2008)


Leitura de poemas (mp3 para download) pelo próprio autor:


Entrevista:

A Poesia que vem de Diadema pela internet
por Elizabeth Brose e Isadora Dutra

Contato:
jgneres@uol.com.br
outrossilencios@gmail.com




Visite o portal do Grupo Palavreiros



segunda-feira

Casa da Palavra

Endereço:
Praça do Carmo, 171, Centro
Cep 09010-020
Santo André - SP

Telefone:
011 4992-7218

E-mail:


casadapalavra@santoandre.sp.gov.br

ou

crtirapani@gmail.com

sábado

Comissão de Letras e Literatura

Os representantes da Comissão de Literatura do Conselho Municipal de Cultura se reúnem nesta sexta dia 13, às 19h com os interessados em discutir este segmento cultural.

São conselheiros atualmente Vanessa Molnar Maluf (historiadora e escritora) e Rosana Banharoli (jornalista e poeta).

Para participar basta comparecer e se informar sobre agenda.
tel: 4992-7218 - Casa da Palavra
O Conselho

O Conselho Municipal de Cultura é o canal oficial de diálogo da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer com a sociedade civil. É um órgão consultivo e deliberativo, instituído por uma lei de 1999, e que tem entre suas funções participar da elaboração e fiscalização das políticas públicas culturais de Santo André.

O Conselho Municipal de Cultura é composto 12 membros, sendo 06 representantes nomeados pela Prefeitura e 06 eleitos pela sociedade civil. Estes últimos representam seis diferentes áreas: artes cênicas, audiovisual, música, artes visuais, literatura e artesanato. Eles reúnem-se mensalmente. O mandato é de dois anos, após os quais é realizada uma nova eleição. O novo Conselho será eleito no dia 29 de maio de 2008, e uma série de ações pré-eleitorais vêm sendo realizadas pela Secretaria.
Este site é um espaço para que a sociedade civil e a comunidade cultural de Santo André possam se envolver ativamente na eleição dos novos membros. Aqui, é possível ter acesso a todas as informações sobre o Conselho, esclarecer dúvidas e saber como se candidatar e como votar. É possível ainda acompanhar o que aconteceu na assembléia e nas reuniões iniciais das comissões.
A participação de todos é fundamental para que este processo eleitoral seja o mais democrático e aberto possível.
Informações:
4433-0577